"É necessário ter o caos na alma
para dar à luz uma estrela dançante",

disse Nietzsche.

Bebe as palavras.
Saboreia o significado.
Sente o seu poder.
Vamos fazê-lo!
Transformar-nos em estrelas!
Usar a nossa força interior oculta e superar todos os elementos temidos.
Tomar o mundo como um palco.
Um enorme palco onde representar o papel da nossa vida, onde perseguir a obrigação da existência, onde encontrar a felicidade.

in Le cool magazine Lisboa
Fotografia de Graça in http://www.olhares.com/

(in)definição!?!?!

Amor é um estranho sentimento...


Fotografia de Getulio Bessoni
in www.olhares.com

É... algo inevitável...
É... uma entrega total...
É... uma partilha da alma...
É... estar preso por magia...
É... uma força invisível...
É... um estado de graça...
É... uma felicidade inesgotável...
É... um auge de paixão...
É... uma loucura insaciável...
É... uma incerteza constante...
É... derramar lágrimas...
É... sofrer por alguém...
É... uma dor conformada...
É... uma triste melancolia...
É... um desespero de saudade...
É... uma confissão sincera...
É... um salto no infinito...
É... um acto expontâneo...
É... uma atração serena...
É... um arroma irresistível...
É... contemplar as estrelas...
É... fonte de vida...
É... a palavra exacta...

Amor...o Amor foge a dicionários...

Um prefácio para um livro...

“Pelas ruas de Cecília, cidade ilustre, encontrei uma vez um cabreiro que conduzia (...) um rebanho badalante.
– Homem (...) –deteve-se para me perguntar, – sabes dizer-me o nome da cidade onde nos encontramos?
–(...) Como podes não reconhecer a mui ilustre cidade de Cecília?
–(...) sou um pastor em transumância. Calha-me às vezes a mim e às cabras atravessar cidades, mas não conseguimos distingui-las. Pergunta-me o nome dos pastos: conheço-os todos (...). As cidades para mim não têm nome: são lugares sem folhas que separam um pasto do outro (...).
– Ao contrário de ti, eu só reconheço as cidades e não distingo o que está fora delas. (...)
Desde então passaram muitos anos, conheci muitas mais cidades e percorri continentes. Um dia caminhava por entre esquinas de casas todas iguais: tinha-me perdido.
Perguntei a um transeunte: – (...) sabes dizer-me onde nos encontramos?
– Em Cecília, não podia deixar de ser! Caminhamos há tanto tempo pelas suas ruas, eu e as cabras, e nunca mais se consegue sair ...
Reconheci-o (...): era o pastor da outra vez. Seguiam-no poucas cabras peladas (...).
– Não pode ser! Eu também, não sei há quanto tempo, entrei numa cidade e desde então continuei a penetrar cada vez mais pelas suas ruas. Mas como pude chegar aonde dizes tu, se me encontrava noutra cidade, afastadíssima de Cecília, e nunca mais saí dela?
– Os lugares misturam-se – disse o cabreiro, – Cecília está em toda a parte, aqui dantes devia ser o Prado da Salva Baixa. As minhas cabras reconhecem as ervas do separador das faixas da rua.”


Italo Calvino in As cidades Invisíveis

Estas cidades contínuas de que nos fala o pastor são, sem dúvida, cada vez mais, as cidades dos nossos tempos, cidades que se expandem indefinidamente até à periferia das cidades vizinhas, cidades capazes de surpreender até o citadino, tão habituado ao cenário artificial deste espaço, sentindo, no entanto, a necessidade de distinguir as cidades, de as isolar umas das outras, de as manter separadas através do dito campo, de as identificar e diferenciar de alguma forma, uma vez que o seu semblante se apresenta progressivamente cada vez mais uniformizado e homogéneo.

Além da importância dos conceitos de identidade e orientação, explícitos no texto, revela-se ser, cada vez mais necessário e urgente controlar esta expansão urbana sobre a paisagem rural, assegurando o adequado funcionamento dos ecossistemas naturais e áreas mais sensíveis do território, através de uma Estrutura Ecológica capaz de preservar, de manter e promover o carácter das cidades, que apesar da sua imposição sobre a paisagem, não podem desprezar as suas origens, dependências e limitações relativamente ao meio, devendo também elas assumir o seu papel num desenvolvimento sustentável.

o despertar dos sentidos...

sentidos... sentir... sentido...sentimento...
alguém já se pôs a pensar... o que será que significa "despertar os sentidos"?
estarão eles adormecidos?
alguém já sentiu com todos os seus sentidos?
que sentido isso terá?
será aí que se desperta um sentimento?
e não sentir nenhum dos sentidos?
será isso possível?
quais os sentidos possíveis de se sentir?
existem apenas cinco sentidos?
ou existe ainda mais um...
um sentido que não se sente...
mas que nos faz querer sentir...
que nos faz despertar os sentidos?
que nos faz perceber o verdadeiro sentido de todos os outros sentidos...
que acorda o sentimento adormecido entre os sentidos...
será que isto tudo faz algum sentido?
ou será este sentir...
que me invadiu...
de sentimentos...
em que tudo faz sentido?
existe algum sentido...
que faça sentido...
a não ser que seja...
simplesmente sentido por alguém?


Fotografia de Alexandre Costa
in www.olhares.com

só sinto que tudo faz sentido quando estás perto... e te sinto... mergulhada em ti

Secretamente...

Fotografia de Fabio Correia
in www.olhares.com



"... Secretamente, à espera de um gesto...de um sinal ..."

Reconhecimento à Loucura!

Fotografia de Maria Flores
in www.olhares.com



Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
E tomar a forma dos objectos?
E acender relâmpagos no pensamento?
E às vezes parecer ser o fim?
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.

José de Almada Negreiros (Poemas)

Conhecem a "História de uma gotinha de água"? ...

Fotografia de Joel Calheiros
Era uma vez uma gotinha de água pequenina e transparente. Juntamente com outras Salpico formava a água de um lago.

Um dia, o Sol brilhante aqueceu a água do lago. As Salpico separaram-se, subiram e formaram o vapor de água. Já não se viam as Salpico.

No céu, a gotinha juntou-se a muitas outras e formaram as nuvens. O vento empurrou as nuvens e a Gotinha viajou por muitas terras.

Quando a nuvem ficou mais pesada e encontrou ar mais frio, algumas Salpico caíram em forma de chuva.

Ao passar pela montanha, o ar era muito, muito frio e a gotinha juntou-se a outras e formaram água sólida. Caíram na terra em forma de neve

O calor do sol derreteu a neve e as Salpico voltaram a ser água líquida.

Parte da água introduziu-se na terra e alimentou as plantas. Outra parte infiltrou-se no solo. Quando encontrou rochas impermeáveis formou um lençol de água

A gotinha, com outras companheiras, correu debaixo da terra e formou uma nascente

A gotinha de água foi ter ao rio onde conheceu os peixes.

O curso da água levou a gotinha até ao mar.

Agora a gotinha faz parte do mar. Vive numa onda à espera que o Sol a aqueça para de novo poder subir e começar uma nova viagem.

Palácio dos Sonhos...

Foto de Paulo A. L. Henrique in www.olhares.com
Hum... Sintra... quem já não se perdeu... pelos teus Caminhos?
Caminhos sinuosos que nos transportam no tempo,
e nos levam bem para lá onde moram os nossos Sonhos...
Caminhos íngremes que nos absorvem,
e puxam para o mais alto das nossas Ambições...
Caminhos teus... que só tu conheces...
e que não se desvendam por quem os percorre...
Caminhos meus... que não sei onde me levam...
mas que me fazem sonhar...
e desejar mais além...
contigo para me abraçar...

Em sonho lembrei-me...



Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.
Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você?
Estar? Ter estado,
Que é tempo passado

Um sonho presente
Um dia sonhei
Chorei de repente,
Pois vi, despertando,
Que tinha sonhado.

Anónimo

Em comunidade!

Foto de Mariana Topa in www.olhares.com


Sozinho não podes fazer muita coisa em favor do outro. Mas em comunidade, prepasado pelo sopro de amor de Cristo, abre-se aquela passagem que conduz da aridez até à criação em comum. E quando uma comunidade é fermento de reconciliação nesta comunhão que é a Igreja, o impossível torna-se possível.

Irmão Roger

139...



Se eu voar sem saber onde vou
Se eu andar sem conhecer quem sou
Se eu falar e a voz soar como a manhã

Eu sei
Se eu beber dessa Luz que apaga a noite em mim
E se um dia eu disser que já não quero estar aqui
Só Deus sabe o que virá
Só Deus sabe o que será
Não há outro que conhece tudo o que acontece em mim
Se a tristeza é mais profunda que a dor
Se este dia já não tem sabor
E no pensar que tudo isto já pensei

Se eu beber dessa Luz que apaga a noite em mim
E se um dia eu disser que já não quero estar aqui
Na incerteza de saber o que fazer o que querer
Mesmo sem nunca pensar
Que um dia vais passar
Não há outro que conhece tudo o que acontece em mim

Eu Sei (Sara Tavares)

TEMPO para dar e tempo para receber...

"Todas as coisas têm o seu tempo,
e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora.
Há tempo para nascer e tempo para morrer;
tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou;
tempo para matar e tempo para dar a vida;
tempo para destruir e tempo para edificar;
tempo para chorar e tempo para rir;
tempo para afligir e tempo para dançar;
tempo para espalhar pedras e tempo para as ajuntar;
tempo para dar abraços e tempo para se afastar deles;
tempo para adquirir e tempo para perder;
tempo para guardar e tempo para atirar fora;
tempo para rasgar e tempo para coser;
tempo para calar e tempo para falar;
tempo para amar e tempo para odiar;
tempo para a guerra e tempo para a paz!"

Ecle 3, 1-8

Fotografia de Germano Schüür in www.olhares.com

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és no mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive


Ricardo Reis

ALMAS GÉMEAS ...

«(...)As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde não tínhamos conseguido voltar. O coração sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido, tão óbvio que chega a chatear. Mas a alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indeléveis da nossa existência. (...) Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção. (...) O desejo de encontrar uma alma gémea não é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É pdoer descansar dessa demanda. No fundo, todos nós duvidamos que tenhamos uma alma. Senão não falávamos tanto dela. Uma alma gémea é a prova que não estamos sozinhos. (...) O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o "não ser preciso falar" - é outra foma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Não é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Não precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. Não têm passado. Não se esforçaram. Estão. É essa a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho doutro ninho? Duas almas gémeas podem ser. Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. (...) Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença. (...) As almas gémeas revelam-se uma à outra. Não são iguais. Mas revelam-se de forma igual. Como se tivesse surgido, de repente, uma língua que só os dois conseguissem falar. (...) Toda a angústia do ‘Eu’ se dissipa. É-se inteira e naturalmente aceite. Sem perguntas. Sem condições. Sem promessas. E mergulha-se no outro como se já não fosse preciso existirmos.»


Miguel Esteves Cardoso
Fotografia de Nanci Braz in www.olhares.com

Elogio ao Amor Puro

Fotografia de Tiago Araujo
"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber.O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso in Expresso

Fundo do Mar

Fotografia de Pedro Benevides in www.olhares.com

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Sophia de Mello Breyner Andresen in O Mar

Em silêncio...

Fotografia de Paulo Custódio in www.olhares.com

"Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te de que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e de que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. as raízes e os ramos devem ser de igual modo, deves estar nas coisas e sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.
E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar."

Susanna Tamaro in Vai onde te Leva o Coração