A Felicidade de ser Criança...

Fotografia de Reuben Bezoza in www.olhares.com

"Oh! A idade venturosa da infância! Onde há outra mais feliz e mais tranquila, mais sorridente - isto é, mais egoísta?... Em volta de nós podem suceder as piores catástrofes. Se elas nos não arrancam nem os brinquedos nem os bolos, não nos atingem de forma alguma... não as compreendemos sequer... Quando muito, correm-nos lágrimas vendo chorar as nossas mães. No entanto, é só ainda vagamente que percebemos a dor humana. Por isso as nossas lágrimas secam depressa diante dos brinquedos. E se o quadro em que nos agitamos é risonho, a infância tansforma-se-nos então num jardim maravilhoso. Para as crianças felizes, só para elas, existe realmente um céu - o ceú dos seus primeiros anos."

Mário de Sá-Carneiro, in 'O Incesto'

Nunca é tarde ...

Fotografia de Joana da Costa Silva
Nunca é tarde ... para recomeçar...
Nunca é tarde ... para sorrir...
Nunca é tarde ...para olhar para trás...
Nunca é tarde ... para perdoar...
Nunca é tarde ... para sentir...
Nunca é tarde ... para dar...
Nunca é tarde ... para receber...
Nunca é tarde ... para abraçar...
Nunca é tarde ... para aceitar...
Nunca é tarde ... para lembrar...
Nunca é tarde ... para Amar!

A caminho de uma aldeia chamada Taizé

A caminho de mais uma peregrinação rumo às fontes da fé...
muitas dúvidas, alguns medos, uma única certeza!
Esperando poder entregar-me de novo a esta certeza,
assim vou eu com um destino bem marcado,
mas sem nada em definido para descobrir...
pois sei que será sempre uma surpresa!
No regresso serei certamente diferente...
na esperança da confiança em Ti!

Quando eu brincava ao "faz de conta"...

Arlequim - Ouve, ouve Pierrot!
Pierrot - O que há ainda?
A - Ouve: tive uma ideia!
P - Mais uma ideia?
A - Sim, sim! Chegou agora mesmo!
P - Não achas qua chegou tarde?
A - É porque tu não sabes a ideia que é!
P - Tinha-te escapado essa!
A - É verdade. E é a melhor d todas! Até estou admirado como não a tive há mais tempo! Queres ouvi-la?
P - Escuta, Arlequim!
A - O que foi?
P - Tive uma ideia!
A - Não, espera um pouco: Deixa-me contar-te primeiro a minha.
P - Não, não pode ser! Primeiro conto eu.
A - Quem teve a primeiro a ideia fui eu!
P - Ah, vê-se mesmo que não sabes qual é a ideia que eu tive agora mesmo!
A - Oh, e se tu ouvisses a minha!
P - Não pode haver comparação!
A - Isso mesmo digo eu!
P - Eu nem tenho forças para escutar a tua sem te ter dito a minha!
A - É o que acontece comigo
P - Tanto pior pra ti!
A - É impossível haver uma ideia mais genial q a minha!
P - Oh, e a minha!
A - Somos capazes de ter tido a mesmo ideia!
P - Oh, não, é impossível! Vais ver: Eu conto-te a minha,E a tua fica logo a perder de vista.
A - Não digas fantasias! Tu sabes lá o q ueme veio à cabeça? Digo-te mais: é o suficiente para voltar o mundo inteiro de pernas ao ar!
P - Ora aí esta! Afinal sou eu q tenho razão: Tu precisas de ouvir primeiro que tudo a minha ideia:
A - Mas porquê?
P - Pois tu acabas de dizer que a tua ideia faz voltar o mundo de pernas ao ar:
Tens por força que ouvir primeiro a minha ideia.
A - Bom: Conta-a lá, Mas depressa!
P - A minha ideia é esta: Pedir-te que não digas a tua ideia.
A - Ora essa! Porquê?
P - Pensa porque será
A - Não sei porquê!
P - Então eu digo-te: Porque tu e eu, Nós os dois, já não existimos! Ambos nós morremos e estamos aqui enterrados os dois, cada um na sua cova. E tão sós como o estivemos na vida. Ouviste bem? A morte já veio ter conosco, E ela é como tu dizias da vida: é só uma. Agora já não há ideias que nos valham! Acabou-se tudo: O q foi feito e o que não foi feito!
A - O que não foi feito?
P – Sim! O pior não é o que fizemos; É o que não fizemos!... E agora já é tarde, Muito tarde! Estás a ouvir?
A - É verdade! Acabou-se tudo!... E ia tudo tão bem desta vez! Tu não imaginas que genial que era a minha ideia!
P - Escapou-te essa! Tu n dizias q a vida era só uma; E q havias de espremê-la mto bem espremidinha até ao fim?
A - Escapou-me logo a melhor de todas!
P - Tem graça, não tem? Ter escapado logo a melhor de todas!
A - Dou-te a minha palavra de honra que era a melhor de todas!
P - Escusas de dar a palavra de honra, Porque sei que dizes a verdade. Também a mim me escapou a melhor de todas!
A - Tem graça: A ti também?!
P - É verdade: A mim também
A - Não há dúvida: agora já é tarde.

Almada Negreiros

Nós e Deus

"Uma vez pediram a um peixe para falar do mar.
- Fala-nos do mar - disseram-lhe.
- Dizem que é muito grande o mar, respondeu o peixe. Dizem que sem ele morreríamos. Não sou o peixe mais indi­cado para vos falar do mar. Eu, do mar, o que conheço bem são só estes dez metros à superfície. É só deles que vos posso falar. É aqui que passo o meu tempo, quase sempre distraí­do. Ando de um lado para o outro, à procura de comida ou simplesmente às voltas com o meu cardume. No meu car­dume não se fala do mar. Fala-se das algas, das rochas, das marés, dos peixes grandes e perigosos, dos peixes pequenos e saborosos e de que temperatura fará amanhã. O meu car­dume é assim: eles vão e eu vou atrás deles.
- Mas tu, que és peixe, nunca sentiste o mar?
- Creio que o sinto, às vezes, ao passar-me nas guelras. Umas vezes sinto-o, outras não. Às vezes sinto-o, quando não me distraio com outras coisas. Fecho os olhos e fico a sentir o mar. Isto tudo de noite, claro, para que os outros não vejam. Diriam que sou louco por dar tempo ao mar.
- Conheces o mar, portanto. Podes falar-nos do mar?
- Sei que é grande e profundo, mas não vos quero enganar. Sei de peixes que já desceram ao fundo do mar. Quando os ouvi falar percebi que não conheço o mar. Perguntem-lhes a eles, que vos saberão falar do mar. Eu nunca desci muito fundo. Bem, talvez uma ou duas vezes ... Um dia as ondas eram tão fortes que eu tive de me deixar levar muito fundo, para não morrer. Nunca lá tinha estado e nunca esquecerei que lá estive. Apenas vos sei falar bem da superfície do mar ...
- Foi mau, quando desceste? Por que voltaste à superfí­cie?
- Não foi mau. Foi muito bom. Havia muita paz, muito silêncio. Era como se fosse lá a minha casa, como se ali eu estivesse inteiro.
- Por que não voltaste lá ao fundo? Por preguiça?
- Às vezes acho que é preguiça, outras vezes acho que é medo.
- Medo? Mas tu não disseste que era bom? Medo de quê?
- Medo do desconhecido, medo de me perder. Aqui à superfície já estou habituado. Adquiri um certo estatuto para mim mesmo. Controlo as coisas ou, pelo menos, tenho a sensação de as controlar. Lá em baixo não sei bem o que me pode acontecer. Estou todo nas mãos do mar.
- Tiveste medo, quando chegaste ao fundo do mar?
- Não tive medo algum. Era tudo muito simples ... E no entanto agora tenho medo ... Mas eu não cheguei ao fundo do mar! Apenas estive menos à superfície.
- E que dizem os outros, os que lá estiveram?
- Dizem coisas que eu não entendo. Dizem que é preciso ir para perceber. E dizem que nada há de mais importante na vida de um peixe.
- E explicam como se vai?
- Aí é que está. Explicam que não se chega lá por esforço, que só podemos fazer esforço em deixar-nos ir. Que é só o mar que nos leva ao mar.

Então veio uma corrente mais forte que o fazia descer. O peixe tentou lutar contra ela com quantas forças tinha, à medida que via distanciarem-se as coisas da superfície. Talvez para sempre ... Mas depois fechou os olhos, confiou e já sem medo deixou-se ir."
Nuno Tovar de Lemos, s.j. in O Príncipe e a Lavadeira
Fotografia de Paulo César in www.olhares.com

Lua de Sonho

Fotografia de Miguel Ângelo Perreira in www.olhares.com
"O Sonho é o alimento da Alma, como a comida é o alimento do corpo.
O prazer da busca e da aventura alimentam os sonhos."
Paulo Coelho in DIÁRIO DE UM MAGO

Vida para construir ou plantar?

Fotografia de Pedro Lima in www.olhares.com
"Cada pessoa, durante a sua existência, pode ter duas atitudes: Construir ou Plantar.
Os construtores podem demorar anos nas suas tarefas, mas um dia terminam aquilo que andaram a fazer. Então param e ficam limitados pelas suas próprias paredes. A vida perde o sentido quando a construção acaba.
Os que plantam sofrem com as tempestades, as estações, e raramente descansam. Mas, ao contrário de um edifício, o jardim nunca pára de crescer. E, ao mesmo tempo que exige a atenção do jardineiro, também permite que, para ele, a vida seja uma grande aventura."

Paulo Coelho in BRIDA

A r r i s c a r . . .

Fotografia de Gilberto Júnior in www.olhares.com


"Rir é arriscar parecer parvo
Chorar é arriscar parecer sentimental
Procurar alguém é arriscar-se a ser rejeitado
Mostrar os teus sonhos perante a multidão é arriscar-se a fazer ridículo
Amar é arriscar-se não ser correspondido...
Mas é preciso correr riscos para evitar o maior risco de todos.... não arriscar nada! "

Miguel Torga

Lição de vida...

Fotografia de Marcelo+Guedes in www.olhares.com


“Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos, e presentes não são promessas. (...) E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai magoar-te de vez em quando, e precisas perdoá-la por isso. Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-Ia, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida. Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida (...) Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, devemos deixar sempre as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vemos (...) Aprendes que paciência requer muita prática (...)
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel. Aprendes que nem sempre é suficiente seres perdoado por alguém. Algumas vezes, tens de aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás em algum momento condenado. Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes. E, finalmente, aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E percebes que realmente podes suportar... Que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida! (...) E só nos faz perder o bem que poderiamos conquistar, o medo de tentar!”

William Shakespeare

Se tu queres um amigo, cativa-me! ...

"- Bom dia, disse a raposa.
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho. - Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! ... "

Antoine de Saint Exuperry in "O Principezinho"

S i m p l e s ?

Fotografia de Alba Luna in www.olhares.com

A simplicidade bela de um malmequer!

Assim deveria ser a vida...

assim podemos torná-la...

com a mesma simplicidade...

com que a desejamos...

Será tão simples???

A Arte de Viver, pela Fantasia

"A fantasia é a mãe da satisfação, do humor, da arte de viver.
Apenas floresce alicerçada num íntimo entendimento entre o ser humano e aquilo que objectivamente o rodeia.
Esse ambiente envolvente não tem de ser belo, singular ou sequer encantador.
Basta que tenhamos tempo para a ele nos habituarmos, e é sobretudo isso que hoje em dia nos falta. "

Hermann Hesse, in 'Ainda da Felicidade'

Fotografia de Diogenes Freitas in www.olhares.com

Pedra a Pedra

“Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.

- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? – pergunta Kublai Kan.

- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra – responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.

Kublai Kan permanece silencioso, refletindo. Depois acrescenta:- Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.

Polo responde:- Sem pedras não há arco.”

Italo Calvino in "As Cidades Invisíveis"


Assim cada um de nós, em particular e sem excepção é peça fundamental e essencial na sua existência, pensamentos e atitudes. Esta "dica" é antes de mais para mim, que também, por vezes relativiza a própria existência! Nunca se esqueçam que o dom da vida é uma dádiva que não deve, nem pode ser desperdiçada...Que a vossa vida, assim como as pedras que formam o arco, sustenham a ponte de amor entre os Homens!

Surpresa!!!

Fotografia de Altair Castro, in www.olhares.com
"Ser surpreendido por tudo é claro que é estupido, e não ser supreendido por nada é ainda mais estúpido do que ser surpreendido por tudo.
Pois não ser surpreendido por nada é quase igual a não se sentir respeito por nada.
E é realmente estúpido aquele que é incapaz de sentir respeito."


Fiodor Dostoievski, in 'Bobok'